Um artigo enviado do Brasil por Dom Rafael Maria, beneditino e doutor em Mariologia
Circula no meio jornalístico especulações sobre a renúncia do Papa Ratzinger no dia 28 de Fevereiro e que nos faz refletir sobre o assunto à luz do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida nas águas do Rio Paraíba do Sul e de sua mensagem. Redigimos um artigo, o qual foi publicado em duas revistas e na internet com o título: «Nossa Senhora da Conceição Aparecida e a CNBB»:http://www.a12.com/santuario/academia/artigosNeste artigo procuramos dar uma nova roupagem as interpretações da mariofania de 1717, assim como dar um novo olhar constatando muitos elementos eclesiológicos e mariológicos nos acontecimentos aparecidenses nunca estudados. A história que exige uma resposta divina Tomamos como ponto de partida os fatos históricos, eclesiais e políticos do séc. XVIII e finalmente chegamos a conclusão de que o encontro da imagem pelos pescadores no Porto de Itaguaçu não é uma mensagem para os pobres, nem para os negros como o foi até hoje. É uma mensagem para a Igreja e para o mundo de ontem e de hoje. Fizemos uma análise dos aspectos simbólicos da imagem quebrada procurando luzes e sentido nas Escrituras, na Patrística, no Magistério e na Liturgia, elementos basilares para um verdadeiro estudo mariológico. Observamos que a imagem quebrada em duas partes de Aparecida estava relacionada a falta de unidade na Igreja interna e na sua missão no séc. XVIII, atacada por forças hostis à sua vocação de mensageira do Evangelho, da Revelação Divina emanada por Jesus Cristo e a sua vocação no mundo. O Iluminismo que deu asas a tantas ideologias, se prestou a um mau serviço à sociedade produzindo o Absolutismo, o Josefismo, o Jansenismo, o Galicanismo, o Deísmo, a Maçonaria, etc., onde atacaram com veemência a Igreja, sua mensagem doutrinal e a prática religiosa ontem com resquícios hoje. Papas do séc. XVIII (cerca de 8 ou 9) não foram suficientemente hábeis, salvo exceções, na gestão política internacional, assim como nas intrigas eclesiásticas internas e que deixaram a Igreja no séc. XVIII em situações desagradáveis. Aspectos simbólicos de eclesiologia e mariologia A “cabeça da imagem”, originalmente encontrada “separada do corpo” estava com os cabelos curtos (cortados) e, que nos recorda a Sansão que perde suas forças quando fraquejou humanamente, isto é, não foi fiel ao Senhor. A imagem/Igreja tirada das águas nos recorda a força de Deus que salva Pedro das ondas revoltas, mas também Moisés que, salvo da perseguição faraônica recebe uma oportunidade na mediação com o Povo de Israel. O aspecto mariológico nos faz lembrar a Imaculada Conceição de Maria (a imagem é da Imaculada); Maria salva por obra e graça de Deus pelos méritos de Cristo para o serviço do Senhor e dos irmãos. Em Aparecida toda sua mensagem é eclesiológica e mariológica. Nela encontramos sinais do chamamento do Senhor, por meio de Maria, imagem da Igreja, santa e imaculada à unidade, isto é, o que interpretamos das duas partes da imagem (A cabeça = Cristo/o Papa e o Corpo = o Povo de Deus). O encontro através de pescadores no rio, com barcas, redes e os peixes nos levam ao Evangelho sobre a escolha do Senhor Jesus e deste símbolo da Igreja. Mas é o povo que começa a cultuar Maria e não a Igreja oficial que só depois de décadas que se veem na obrigação de oficializar o culto mariano de Aparecida (1745). Não houve uma «aparição» da Virgem, mas uma modalidade de mariofania dentro de um contexto litúrgico e devocional. A liturgia da época com seus textos eucológicos e bíblicos do Missal Tridentino utilizado na época apresentam as advertências do Senhor com os falsos profetas e suas doutrinas (onde podemos aplicar ao Iluminismo), chama-nos a atenção à fidelidade a mensagem do Senhor (fidelidade na unidade comunitária, entre irmãos). Um outro fator é uma nova hermenêutica sobre a cor da Imagem. Nossa interpretação é vinculada a dois aspectos: o primeiro, o Mariológico, através do Ct 1,5, onde os Padres da Igreja aplicam a Maria, a imagem da Esposa do Ct, a beleza da esposa; o segundo, o Eclesiológico, a Igreja esposa, mas sua cor escura pode refletir seus pecados, sua situação no mundo e a violência em que esta sujeita pelas forças contrárias. Ora, o Papa Bento XVI nos faz refletir em seus discursos sobre a falta de unidade na Igreja e os interesses pessoais, contrários a mensagem do Evangelho. Tais discursos são ecos de um mau, que parece ser incurável na Igreja. Permanece em alguns que relutam na obstinação de rever e de se converter promovendo assim danos pessoais e comunitários. Os escândalos morais e materiais da Igreja, isto é, dos batizados (leigos e consagrados) de hoje, não são diferentes dos de ontem, pois parecem ser fruto desta relutância dos membros e em que o Santo Padre na qualidade de pastor e pai espiritual nos adverte. Nossa Senhora da Conceição Aparecida deixou aqui no Brasil sua mensagem pouco refletida e aprofundada para o mundo. Aparecida é um convite de retorno às origens na Imaculada Conceição da Virgem Maria. Maria, é o início para a Igreja, para todos os batizados em Cristo. Olhando e imitando a Virgem Maria, a Igreja (leigos e consagrados) podem se converter no seguimento fiel a Jesus, Pastor eterno e Salvador de todos. Rezemos uns pelos outros, pois, assim será sinal de começo de unidade e conversão.
Pe. Rafael Maria é formadoem: Postulação deBeatificação e Canonização paraCausa dos Santospela Congregação Para causa dos Santos e doutor em Mariologia pela Pontifícia Faculdade Teológica Marianum-Roma. Leciona um «Curso de Mariologia» via internet cf. www.cursoscatolicos.com.br. Para maiores informações: d.rafaelmariaosb@hotmail.com